quinta-feira, 27 de março de 2014

res-posta


Um dia pensei sobre quem seria o inimigo do corpo mediante a tantos atravessamentos que submetem as subjetividades, as enquadram e rotulam. 

Tais atravessamentos são os que operam a ordem, a normalidade e demais conjunturas que regram, por vezes de maneira humilhante e veladamente gritante, os viveres. A pergunta não carece que se responda, antes, que se perceba, e ao fazê-lo, deixar que a percepção transborde certos contornos que, ao invés de formar - dar forma, tornam-se prisões - conformam. 

Posso tentar seguir pensando no sentido de uma (in)certa integralidade e de como as possibilidades "Trans" evocam os "comos" disso de existir. E o "trans", a transdisciplinaridade - ou - 'transa simbiótica' das práticas,saberes e conceitos que con-vocam a possibilidade de um ambiente. 

O ambiente ou con-texto significa as ações que se justificam na integração disso que é a construção do comum, ou quem sabe do in-comum, que exigirá um alongamento mental que promova rupturas, que "pire" (incendiariamente falando), os modos operativos que promovem as tais falas sem sujeito: "foi sempre assim", "isto não tem jeito" e assim por diante. 

As tais falas sem sujeito, as falas que sujeitam, submetem e des-pontencializam são responsáveis pelo esvaziamento do ânimo, da anima e pelo entorpecimento que mantém o status-quo como algo sem passado e sem uma possibilidade de futuro inventável. 

Vitor Pordeus e o contexto que significa as ações dos trabalhos coletivos desenvolvidos no hotel da loucura e na UPAC são, das muitas respostas, uma  possível a minha questão inicial. Resposta que minimiza a impressão negativa de que  muitos de nossos pensadores - ou - mestres da cultura popular jazem no esquecimento e por vezes parecem nunca ter existido. 

Há um corpo, um corpus que resisti e espera pela sua primavera.  



Anderson Gomes
ArteiroOficineiroArteducador
no CAPS AD - VL. ARAPUÁ

sexta-feira, 7 de março de 2014

O que a festa nos ensina?



O que a festa nos ensina? A festa é como uma batalha, uma fábula – todos os corpos des-ordenados para um fim, em riste, moventes, flutuantes em torno de si – A festa almeja a si mesma. O que a festa nos ensina? A festa engendra e tem engendrado em seu bojo todo o aspecto pluridimensional que pode ser diluído – ou – definido(?) em conceitos; sejam eles poéticos, políticos ou terapêuticos. Seu sentido social, sociável, socializante, trans-atlante... A festa! O que a festa nos ensina? A festa convoca, convoca o corpo, convoca a um pacto, a integração – a festa é um todo. Não se pode estar na festa pela metade, a festa exige o inteiro – o que a festa pode nos ensinar? O que podemos aprender com a festa? A festa, o povo da rua a rua do povo – o que manifesta o corpo que festeja? Que existência inaugura? Algures, a festa é a alvorada do corpo que se faz corpo no ponto de intersecção entre o horizontal e o vertical, o corpo plana e molda o espaço em valores plásticos – a prática do corpo revolvida em plástica que torna o cotidiano "extra" e acessa o impossível. A festa afeta por que o corpo é porto e é mar por onde se navega, é nau e navegante é flecha e alvo. Não se mensura as desmedidas e latências destes acontecimentos, pois, enquanto “acontessência” o que “é” é por que “é”. Tal consequência nos coloca não mais no plano de quem contempla a paisagem, mas de quem já não se distingui de sua condição.


Anderson Gomes
ArteiroOficineiroArteducador
no CAPS AD - VL. ARAPUÁ